O que significa decidir? Numa época em que a decisão é ameaçada por um verdadeiro complô intelectual, como ressalta a tendência geral para a mediação e o compromisso, é absolutamente central discutirmos o tema. A ideia que hoje temos da decisão é muito diferente daquela que se tinha na primeira metade do século XX, quando inteiras gerações de economistas afirmavam que as condutas individuais são ditadas por normas inflexíveis e que eventuais distorções dependiam de variáveis psicológicas que a seguir seriam resolvidas pelo mercado. Os recentes desenvolvimentos da pesquisa científica demoliram esta ideia de racionalidade, devolvendo centralidade a fatores decisivos como a imprevisibilidade e a incerteza. Os comportamentos reais mostram que nós quase sempre decidimos segundo esquemas simplificados, frequentemente condicionados por representações e percepções distorcidas do risco: são variáveis, essas, que tornam altamente improváveis respostas ótimas. Com efeito, em nossas decisões influem fatores como a avaliação emotiva do risco, o receio pelas consequências de uma ação, a tolerância das frustrações, a coragem, a autoestima. Isso para não falar das situações de risco, nas quais sempre confiamos em informações parciais ou insuficientes, recorrendo a experiências presentes e passadas, preconceitos, conjeturas ou deduções tiradas daquilo que sabemos naquela hora, que lembramos ou que ouvimos dizer por acaso. Os raciocínios desenvolvidos em condições de incerteza são análogos àqueles fundamentados em pressupostas certezas. Por exemplo, muitas vezes, por excesso de confiança em nós mesmos, nos concentramos apenas nas informações superficiais, e não em seu sentido profundo. Por que isso? Porque procuramos confirmar nossas ideias em lugar de buscar provas contrárias à elas. Isso explica distrações que podem dar lugar a incidentes até graves, como vimos repetidamente em desastres (aéreos ou de outro tipo) provocados pela “focalização” distorcida de um problema. A ideia segundo a qual um decisor, antes de escolher, examina todas as opções alternativas, não passa de conjectura. Na maior parte do tempo, a mente trabalha com instrumentos diferentes daqueles lógico-formais.