O que a neurobiologia nos faz conhecer sobre funções humanas fundamentais como a sensação, a percepção, a memória, a emoção, o sentimento, a intencionalidade e a intersubjetividade, deve ser objeto de uma reflexão atenta para os que se perguntam como é preciso agir do ponto de vista moral. Se a distinção entre o que é certo e o que é errado depende de nossas estruturas cerebrais, por que motivo deveríamos considerá-la mais real do que aquela entre branco e preto? Se isso é verdade, como poderemos demonstrar que males como o Holocausto e a intolerância racial estão errados para todos, e não são repugnantes apenas para nós?É plausível acreditar que nascemos com um senso moral rudimentar, e que assim que elaboramos alguns raciocínios sobre isso, a realidade nos obriga a chegar a certas conclusões, e não outras.
Existem dois aspectos que orientam numa direção moral qualquer agente racional, social e dotado de espírito de autoconservação. Um desses aspectos é a prevalência dos jogos “cuja soma não seja zero”. Em muitas circunstâncias, se dois indivíduos se comportam altruisticamente geram situações objetivamente melhores em relação a outras geradas por comportamentos egoístas. Isso não depende do cérebro ou de um poder sobrenatural, mas de um ganho natural evolucional-adaptativo. O outro aspecto é uma característica da própria racionalidade: isto é, o ponto de vista de quem elabora o raciocínio. Se quero ser levado a sério, quando peço a alguém para fazer alguma coisa importante para mim não posso fazer isso privilegiando meus interesses em relação aos seus. A essência dessa ideia – que poderíamos definir intercâmbio das perspectivas – está presente nas mais relevantes filosofias morais da história. Esse valor moral superior ao nosso ‘particulare’ – apoiado pela evolução, mas alimentado pela racionalidade – pode nos impelir rumo à sua ampliação para um número cada vez maior de seres humanos.
Nesse sentido, a moralidade é mais ampla que o senso moral herdado. Isso tem consequências profundas. A ciência nos diz que, mesmo quando as motivações de nossos adversários nos parecem desconcertantes, elas poderiam derivar não de psicopatas amorais, mas de indivíduos com uma moral imperativa e universal como a nossa. Em um conflito, admitir que o outro possa ser guiado por motivações morais não desonestas pode ser o primeiro passo rumo a identificação de um território compartilhado.
Em conclusão, podemos afirmar razoavelmente a existência de um senso moral universal? As emoções nos fornecem indicações para conhecer e agir, mas como colocá-las no fundamento de uma moral universal? O conhecimento neurobiológico decerto enriquece nossa reflexão, mas não nos alivia das responsabilidades das escolhas. Sabemos que nosso cérebro se constitui em função da experiência à qual está exposto. Podemos até mesmo utilizar a plasticidade do cérebro para fazer dele um instrumento melhor ou para mudar profundamente nossa identidade humana. A ciência, todavia, não nos eximirá da responsabilidade de responder às perguntas, antigas ou novas que sejam. Sobretudo, não nos tirará a responsabilidade das escolhas que poderiam fazer com que atingíssemos a época do pós-humano. Precisamente como os outros sentidos, o senso moral é vulnerável às ilusões: muitas vezes confunde moralidade e pureza, impõe tabus que tornam algumas ideias indiscutíveis e tem o péssimo hábito de por a si próprio do lado da justiça. No pior dos casos, a insensatez de nossos comportamentos instintivos pode ser considerada como uma virtude. Seja lá como for, a ciência do sentido moral não deslegitima a moralidade. Ao contrário, pode fazer com que progrida, possibilitando-nos ver além das ilusões determinadas pela evolução da cultura nos concentrando em objetivos que podemos compartilhar e defender. Decerto o homem se tornará melhor quando sua verdadeira natureza lhe for desvelada.

Tradução: Roberta Barni

 

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