As categorias tradicionais do tempo, suas dimensões de passado, presente e futuro, a relação entre tempo estático e tempo dinâmico são inutilizáveis. Os lugares-sem-lugar e os tempos-sem-tempo da contemporaneidade são a ordem do mundo, a moldura dentro da qual nossa existência flui. É uma questão que já não se pode ignorar. Se nos despedimos do espaço como horizonte estritamente material e físico sem consequências dilacerantes, a mesma coisa não pode ser dita para o tempo. Sua ininterrupta transfiguração em multiplicidade de formas e ritmos está mudando a qualidade e a dimensão evolutiva da existência, até chegar a resultados extremos, tornando a questão do tempo, sob muitos aspectos, impensável. A questão tornou-se muito mais emaranhada e complexa após as catástrofes da modernidade, a dilaceração do paradigma do progresso, a dissolução da concepção quantitativa da temporalidade e da ideia de uma evolução irreversível da história. Apesar de tudo esse enigma – o enigma mais antigo do mundo – não cessa de interrogar-nos e de extenuar-nos. O tempo é a vida, a vida como tal. E isso intensifica o paradoxo. Sem o tempo, o mundo não pode sustentar-se. Mas definir o tempo significa, assim como no mito, fazê-lo morrer por suas próprias mãos, devorado por si próprio. Por acaso não é verdade que, para ganhar tempo, é preciso consumir tudo o que encontramos pelo caminho? Essa corrida, essa destruição, esse gesto que aniquila o tempo não estaria na origem da paradoxal e nunca vista morte do tempo?

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