Se o movimento do tempo — a própria trama da realidade e do agir humano — se desenvolve entre fluxos de instantes privilegiados, a música é, então, o paradigma original em que ressoam os próprios ecos da consciência. Não será a consciência uma partitura que se torna melodia? Uma melodia é muito mais do que as notas que a compõem.Ela a ora do misterioso encontro de frequências, ritmos, acelerações: uma combinação de notas de cordas e piano, de ritmos de percussões e vibrações, que remetem intimamente a harmonias e desarmonias neuronais. Mas, se as notas e os sons se unem à atenção, a música nasce da consciência. Ambas têm origem num universo anterior, de nascentes profundas e remotas: como numa fuga de Bach, que começa com algumas notas e evolui lentamente em direção a maravilhosas espirais de sons cominados que devolvem a impressão da complexidade, enquanto na verdade seguem uma lógica rigorosa. O mesmo vale para as grandes liturgias russas ou as polifonias que dão a ilusão de uma grande simplicidade através de uma sábia distribuição de ritmos e espaços sonoros interconexos, entrelaçados num balé que parece um solo, pois segue uma via que, no nosso cérebro, harmoniza múltiplas atividades. 

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