Nunca se termina com o tempo. Todos os maiores mistérios da ciência prezam o problema do tempo. Tudo que pensamos, sentimos e fazemos nos recorda sua existência. Percebemos o mundo com um fluxo de momentos que escandem nossa vida, mas tanto os físicos quanto os filósofos dizem que o tempo é perfeita ilusão. Não só eles, na verdade. Muitas vezes ouvimos, mesmo de pessoas comuns, que a passagem do tempo é enganosa e que tudo o que é real – a verdade, a justiça, as leis científicas e assim por diante – não têm tempo. De resto, a ideia que o tempo seja uma ilusão tem antiquíssimas raízes filosóficas e religiosas. Durante milênios as pessoas resignaram-se às vicissitudes da vida e ao fato de que um dia se morre, crendo na possibilidade de uma transição (quem sabe com um ressarcimento pelo sofrimento terreno) em um mundo menos penoso e sem tempo. Nossa experiência do tempo (baste pensar na tradição gnóstica) foi considerada como um acidente devido à nossa condição de seres humanos mortais, a única de que temos noção.
Paradoxal condição, a nossa! Vivemos no tempo, mas imaginamos que os aspectos melhores do mundo e de nós mesmos sejam de um tempo ideal, abstrato. Acreditamos que o que torna algo verdadeiro não é seu ser verdadeiro agora, mas o fato de sempre ter sido. Por outro lado, um princípio moral não é absoluto precisamente por ser válido em qualquer momento e qualquer circunstância? Uma coisa não se torna mais preciosa se existir fora do tempo? Não desejamos o amor eterno? Por acaso, não falamos de verdade e de justiça como entidades atemporais? Tudo o que desperta nossa admiração e respeito – Deus, as leis da natureza, a matemática – é dotado de uma existência que transcende o tempo. Agimos no tempo e no entanto julgamos tudo fundamentando-nos em critérios atemporais.
No entanto, tempo e sua passagem são reais. Esperanças e crenças sobre verdades e reinos atemporais não passam de mitos. Aceitar o tempo significa convencer-se de que a realidade consiste do que nos é próximo no dia a dia. O tempo é uma realidade profunda, sedimentada em formas e estruturas persistentes. Há indícios disso por toda parte: na rocha em que está escrita a história da terra; nos cromossomas que carregam memória do tempo genético; nos círculos concêntricos de uma árvore que narram sua história; no rosto de um homem que recorda o instante de nascimento. Nosso sentimento do tempo é duração, transformação, fluxo, repentinidade. Um tempo de invariantes e simetrias não contemplaria nada além do instante atual. Uma percepção, assim que concluída, desapareceria para sempre. Sem experiência de nada. Uma ideia seguiria a outra, sem poder ter consciência desta. Todo estado de consciência, assim que concluído, se extinguiria rapidamente. Para sempre.
Pensar no tempo significa aceitar a incerteza da vida como o preço necessário para se estar vivo. Rebelar-se contra a precariedade da vida, aceitar sua incerteza e seu risco, imaginar que a vida possa ser organizada eliminando o perigo, significa pensar fora do tempo. Sermos humanos significa viver suspensos entre perigos e oportunidades. Aceitar passivamente as restrições, as correntes de papel da burocracia como se fossem determinados por uma razão absoluta, é colocar-se fora do tempo. Sim, porque toda instituição humana é o efeito de uma história. Portanto, todo aspecto, jurídico ou relacional, é negociável e passível de melhora graças à invenção de novas maneiras de pensar e de fazer as coisas.

Tradução: Roberta Barni

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