A música dá voz ao inefável. É um evento fugidio e irreversível, evanescente. Ausência, circunstâncias de um tempo passado e que nunca mais serão. A música é essa temporalidade encantada, essa nostalgia purificada de qualquer desassosego. Mesmo sendo inteiramente temporal, ela é, num só tempo, um protesto contra o irreversível e, graças à lembrança, uma vitória sobre o irreversível. A música representa uma estilização do tempo: um tempo que suspende os tumultos do mundo. O tempo estilizado é uma interrupção não só temporal, mas também temporária da duração sem estilo. A música invade a vida, subverte-a. Não pode serená-la, porque então seria apenas um momentâneo e superficial divertissement. A música não tem que acalmar, sedar, mas gerar catarse na passagem da opressão à liberdade, da guerra à paz, da preocupação à inocência. Ela não tem a tarefa de tornar o homem por alguns instantes amigo de si mesmo, mas de reconciliá-lo com a natureza. É rompimento do tempo real e irrupção do tempo da alma, epifania de um sentimento que acolhe em si centelhas de infinito.

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